O trabalho do Ministério da Saúde para conter o aumento do surto de Coronavírus (COVID-19) no Brasil tem sido amplo e exaustivo. Entretanto, é a participação da comunidade que será decisiva para reduzir as transmissões e retardar ou evitar o progresso acelerado da epidemia.
Isso é especialmente importante para reduzir também a pressão sobre o sistema de saúde (rede pública e privada), que sofre sobrecarga muitas vezes desnecessária, fazendo com que aqueles que realmente precisam de cuidados assistenciais não consigam ou demorem mais a ter acesso aos serviços de saúde. Os casos da Itália, China e Espanha nos mostram isso.
Muitos já estão trabalhando de casa (nós no BID também estamos) e vários governos estaduais e municipais têm tomado medidas para reduzir a possibilidade de aglomerações de pessoas em espaços públicos e privados. Essas ações são ainda mais importantes no ponto em que se encontra a epidemia no Brasil, que ainda não alcançou o seu pico máximo estimado.
O que dizem os números
As estimativas até o momento apresentam que para cada caso, espera-se que ocorram em média dois a três casos secundários, e assim sucessivamente em progressão geométrica em uma média de 1,73 a 2,93, de acordo com o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde.
Estudos de modelagem matemática estimam que uma redução de cerca de 50% dos contatos entre as pessoas teria impacto significativo no número total de casos, uma vez que reduziram o alcance de transmissão do COVID-19 para próximo de um. Além disso, as medidas não farmacológicas atrasam o pico da epidemia e reduzem a altura do pico, permitindo, dessa forma, uma melhor distribuição dos casos ao longo do tempo e o esgotamento dos serviços de saúde.
Impacto pretendido das medidas não farmacológicas em uma epidemia ou pandemia de COVID-19 através da redução de contato social.
Fonte: Ministério da Saúde – Boletim Epidemiológico 5, de 13/03/2020
O relatório do Ministério da Saúde aponta que essas medidas, quando tomadas em todas as províncias da China resultaram em um declínio de cerca de 94,5% no número de casos que poderiam ter ocorrido. É por isso que agir rápido e agora é o fator que vai definir o tamanho a curva epidemiológica no Brasil. Para isso, compartilhamos algumas das principais medidas que você pode tomar no seu dia-a-dia.
Principais medidas a nível individual para que o surto não se espalhe
Fique em casa. É uma das maneiras mais efetivas. Se não há circulação de pessoas, o risco de contágio diminui drasticamente, como os números que acabamos de mostrar. Saia de casa apenas quando necessário, dê preferência a serviços de entrega e quando for ao mercado, opte por comprar mais itens por vez, diminuindo assim a necessidade de retorno por mais tempo.
Cuide da sua higiene pessoal e de sua família. Lave as mãos com sabonete por pelo menos 20 segundos. O vírus não morre tão facilmente, possui uma camada de gordura que o protege e o sabonete leva um tempo para agir sobre essa camada. Use álcool gel apropriado várias vezes ao dia.
Siga as orientações de limpeza e demais medidas de segurança domiciliar. Importante adotar novas práticas e rotinas de limpeza da casa, superfícies de contato, maçanetas e objetos pessoais de provável compartilhamento como telefones, celulares, controles remotos de aparelhos eletrônicos, computadores e tablets, com álcool 70% ou cloro (água sanitária) seguindo as recomendações de diluição e forma de limpeza dos ambientes.
Mude seu comportamento social e forma de interação com pessoas. Entenda que restrição de contato e convívio, seja em ambientes públicos ou em sua casa, inclui mudar hábitos sociais. Não promova eventos sociais, desmarque festas inclusive as domiciliares, deixe as visitas aos familiares e amigos para outro momento e adote formas de comunicação e interação usando mais intensamente as ferramentas de comunicação virtuais durante este período crítico.
Viaje apenas se for imprescindível. As viagens são um fator crítico, visto que vão te expor a um grande número de pessoas, seja nas aeronaves, ônibus, hotéis, etc. Se tiver uma viagem que pode ser adiada, este é momento de repensar os planos pessoais e profissionais.
Não compartilhe informação falsa. No Brasil há ampla rede de informação, com fontes confiáveis, entre elas o Ministério da Saúde, a ANVISA, as Secretarias de Saúde estaduais e municipais, os veículos de comunicação sérios e oficiais. Sempre cheque a fonte das informações que recebe via Whatsapp, não encaminhe para seus contatos aquele vídeo duvidoso com um médico que no final das contas não existe ou não fala oficialmente pelos órgãos responsáveis.
Não congestione o sistema de saúde sem necessidade. Procure informação antes de ir diretamente a um posto de saúde. Muitas pessoas que chegam aos postos não deveriam sequer ter ido. O quadro abaixo demonstra a diferença entre os sintomas – ainda que parecidos com uma gripe ou resfriado, existem diferenças.
O que mais podemos fazer (e aprender)
Reagir à uma pandemia com dimensões avassaladoras em tempos de fácil acesso à informação, conhecimento científico e compartilhamento de boas práticas globais quase que em tempo real é um desafio bem diferente de séculos atrás quando as epidemias eram apenas uma péssima surpresa e, de fato, não havia muito a fazer. O cenário atual é diferente, agora sabemos o que precisamos fazer e como!
É preciso entender que o comportamento individual ao final é fator determinante sobre as condições de sobrevivência da população como um todo. Não é possível viver em comunidade sem entender nossa responsabilidade individual dos impactos de nossas decisões e comportamentos sobre o bem público.
A situação de expansão do contágio e disseminação dessa infecção viral que aplaca os cinco continentes, com mais de 170 mil casos em 155 países e regiões, milhares de mortes e impactos devastadores inestimáveis na vida de milhões de pessoas (Johns Hopkins Coronavirus Resource Center), exige de cada um de nós uma visão social sobre a saúde da população, um olhar comunitário. E para tal, deveremos aprender a compartilhar desde recursos básicos, como materiais para prevenção e cuidados pessoais, alimentos e medicamentos, até os recursos de cuidados de saúde mais sofisticados, como exames, equipamentos e leitos hospitalares.
É uma oportunidade de revisão do comportamento social e noção de responsabilidade cidadã. Compreensão de que cada um tem um papel para conter a epidemia do COVID-19, todos nós e não só os tomadores de decisões políticas e profissionais de saúde!
Podemos aprender com o COVID-19 que a disciplina para seguir as medidas de prevenção e precaução, a solidariedade com o coletivo e a resiliência individual são as competências humanas requeridas no momento, e são elas que juntas poderão modificar a evolução e estimativas de transmissibilidade em nosso país.
*As artes utilizadas neste blog foram extraídas de materiais oficiais do Ministério da Saúde.